





CIDADES VISÍVEIS_ Por Maycon Amoroso
A solidão, a noite e o sentimento de “não-relação”. Corro como um cão perdido em noites frias para encontrar o vazio. Essa é a imagem e a sensação que me cercam ao colocar meu corpo na rua, na noite. O sentimento de isolamento está presente de tal forma que não consigo desvincular minha visão dos espaços que me cercam. E esses espaços estão repletos de imagens que apenas gritam e escarram em minha face uma melancólica e fria relação entre os seres que percorrem as ruas escuras de um pequeno pedaço da cidade. Cidade que se mostra quase morta, ao menos para mim, que sigo em busca de um entendimento para absorver sem traumas o que realmente sinto. A noite, os vultos, os personagens perdidos em pensamentos que jamais poderei atingir, mas que estão presentes em meu caminho, que se mostram distantes e sem vida. As relações desgastadas, a mentira, a falsidade que agarro no ar. E aqui não interessa se é uma criação própria de um ser enclausurado em seu próprio mundo ou se essas relações, ou “não-relações”, realmente são perceptíveis por todos. Não estou preocupado com um “todo”, com uma “ideia geral”, com uma “aceitação suprema”. Estou interessado é no que estas não-relações e este vazio afirmam, mostram, indicam; a reflexão sobre um tempo que parece se esvair cada vez mais para o limbo, para o desespero. Pode parecer uma fuga ou uma construção da realidade que existe apenas em meus sentimentos, em minhas sensações. O ato de buscar uma compreensão para todo o isolamento que me abraça acabou por me inserir cada vez mais em um universo extremamente subjetivo, quase hermético, mas que dialoga com a atmosfera da noite, da cidade escura. É nela que consigo sentir a grandeza do vazio. Em minha visão apenas os vultos e os símbolos da cidade. Curitiba é um local novo de morada. É nessa cidade que consigo perceber a solidão e o estranhamento. É nessa cidade que tento compreender o que acontece, o que está acontecendo comigo e, talvez, com todos. É nessa cidade e nessa noite que desejo criar um universo próprio, que mostre o desespero de se estar vivo. E tenho em minha companhia a imagem, a fotografia, o ato de recortar minhas sensações e inseri-las em imagens que possam sugerir - como a noite.
"It's not how a photographer looks at the world that is important. It's their intimate relationship with it" (Antoine D’Agata).